Brasil de todas as drogas
Entre 2006 e 2010, segundo números do Sistema Único de Saúde, 40.692 pessoas morreram no Brasil em consequência do uso de substâncias psicoativas. Destas, 84,9% faleceram por conta do álcool, 11,3% por doenças relacionadas ao fumo e 0,8% por causa da cocaína. Nenhum óbito diretamente relacionado à Cannabis sativa – como, aliás, ocorre com toda a literatura médica mundial.
Por outro lado, a política de repressão às drogas consideradas ilegais – das quais a mais consumida é a maconha, em todas as classes sociais – é direta ou indiretamente responsável pelo encarceramento em massa e pelos altíssimos índices de mortes violentas no Brasil. O país já possui a quarta maior população carcerária do mundo, superior a 563 mil indivíduos, em sua larga maioria homens jovens, pobres, pretos e pardos, presos em quantidade crescente por conta das nossas leis de drogas — como mostra o artigo de Maria Gorete de Jesus. São números decorrentes de uma tragédia à qual nos acostumamos a chamar de “guerra às drogas”, na verdade uma guerra a pessoas, pois, como já disse o cientista político e delegado Orlando Zaccone, ninguém atira em um pé de maconha. População civil e agentes do estado morrem por conta de uma equação na qual a vida humana não é o fator mais relevante. Esta preferência, como tudo o que diz respeito a humanos, tem uma história.
Nesta edição, a historiadora Nashla Dahás reuniu estudiosos sobre o tema, abordando aspectos que vão do quase universal uso de substâncias alteradoras de percepção aos diversos sentidos que atribuímos a elas ao longo do tempo. Como a proibição da maconha, ou “pito de pango”, em 1830, um modo de controlar os escravos e os “vadios” que a usavam, o que fez do Brasil pioneiro mundial nesta opção pela repressão. Dois séculos depois, é mais do que hora de refazer o caminho e começar a nos desarmarmos em relação ao tema – a começar pelo estado de espírito.
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/carta-do-editor/brasil-de-todas-as-drogas
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