terça-feira, 21 de maio de 2013

Crack produz geração de dependentes em lavouras brasileiras


Na área da saúde pública, é sempre mais fácil diminuir os danos de uma doença antes que ela se transforme em epidemia. Porque depois que a contaminação se espalha entre milhares de vítimas, toda ação de controle se torna muito mais complexa. E é mais ou menos isso que o Brasil está vendo acontecer, hoje, com o crack.
Na segunda reportagem de uma série especial, o Jornal Nacional mostra que o crack também está presente no campo. E fazendo vítimas entre os trabalhadores das lavouras.
Uma situação cada vez mais comum na lavoura. Um homem diz que não tem mais nada a perder. Família, dinheiro, dignidade. Tudo foi consumido pelo crack. “E eu durmo no meio da rua. Faz muito tempo que eu não tomo um banho”, conta.
A praga do crack se alastra pelas plantações do país. Um homem trabalha como capataz. Comanda um grupo de 300 trabalhadores no corte da cana. E já viu muitas vezes a droga ser consumida durante o serviço.
“Você não pode nem acabar repreendendo ele. Ele acaba vindo em cima da gente com facão, essas coisas”, diz o homem.
“Eu fiquei trabalhando em troca do crack dez anos, na lavoura de café. Totalmente escravo. Sem futuro”, afirma outro homem.
Visitamos pequenas cidades em Mato Grosso do Sul, a cerca de 300 quilômetros da capital, Campo Grande. A região produz milho, soja e algodão.
O senhor que hoje revira a terra sozinho não pode mais contar com o filho, dependente de crack. “Eu comprei isso aqui para ele morar comigo”, se emociona. Ele conta que tem 20 dias que não vê o filho.
Para chegar em muitas fazenda e sítios, é preciso atravessar quilômetros de estradas de terra batida, passar por muitos buracos. O crack é deixado na porta de casa. Vendedores da droga usam motos e carros para fazer o serviço.
“Na hora do almoço, para o serviço, no meio, faz a rodinha, os traficantes vão até levar hoje nas propriedades rurais. Tá fácil hoje”, conta um homem.
Os dois filhos de uma senhora - trabalhadores rurais - são dependentes da droga. “Isso daí tinha que fazer um meio deles não conseguir. Entendeu? Não conseguir”, desabafa a mãe.
“Eu estou tendo muito trabalho para ter funcionário que não seja usuário”, afirma um homem.
Uma jovem tenta se livrar do vício, antes do nascimento da primeira filha. Está na fase final da gestação e só conseguiu se afastar do crack no sétimo mês.
“Eu trabalhava na lavoura. E o dinheiro que eu ganhava, a maioria, tudo para droga”, confessa. “Meu medo é recair e minha filha catar este exemplo e seguir a mesma coisa. Eu não queria nem que ela nem conhecesse, mas eu sei que um dia ela vai conhecer a droga. Mas espero que ela não chegue a usar”, completa.
“O Governo Federal demorou muito tempo para reconhecer a situação de epidemia, hoje já é uma pandemia. Ou nós enfrentamos a questão do consumo e do tráfico de drogas com seriedade no país, ou então nós vamos viver o caos que já se apresenta como agora até a zona rural, índios, quilombolas, já estão a mercê do tráfico de drogas”, ressalta Sérgio Harfouche, presidente do Conselho Antidrogas - MS.

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